Han Solo e Princesa Léia, a história esquecida…
Eu sinto que o caminho do herói emburreceu as pessoas.
Exemplos de dramas modernos não se encaixam bem, porque focam apenas em solucionar o problema, bem, romântico do romance
- mocinha em perigo
- mocinha agredida
- mocinha espancada
- mocinha estuprada
Meu argumento é de que a ênfase tem sido colocada repetidamente no sofrimento da “mocinha”, par romântico do herói, quando deveria ser dada ênfase na verdade à capacidade da princesa de sentir empatia e abrir o mundo para que o herói o veja.
Mas essa é apenas o início da jornada.
Vladimir propp catalogou 449 contos russos e os organizou conforme eles se utilizavam de personagens e unidades da narrativa as quais chamou de funções. As personagens que Propp encontrou são:
- o agressor
- o doador
- o auxiliar
- a princesa e o pai
- o mandante
- o herói
- o falso herói
A princesa aparece ligada a seu pai como uma só personagem, mas possuem funções distintas. uma é a de pedir ajuda, o outro é o de necessitar da ajuda. diferente do “mandante”, nem a princesa nem seu pai têm poder sobre o herói. não podem obrigá-lo a cumprir uma missão.
É raro vermos hoje em dia. a jornada do herói confunde a princesa com o prêmio. em Propp, a função “casamento” aparece como sinal de final feliz, mas não necessariamente significa que herói e mocinha se casam. às vezes, é apresentado como renascimento das flores, volta da natureza a seu estado original e outras formas de fertilidade e frutificação.
O papel da princesa é ser alguém com quem o herói se importa genuinamente.
Isso tudo começa lá atrás, quando a mitologia tentava explicar a ligação entre as pessoas. O mito do sexo mágico dizia que, ao se unirem sexualmente, o Sol e a Lua — digo, o herói e a princesa — misturam suas energias. O herói, até então incapaz de se importar com qualquer outro ser sobre a Terra, recebe da princesa a dádiva da empatia.
“Herói” como nós o conhecemos hoje é um ser que vive entre os deuses e os seres humanos. De um, ele herda o livre-arbítrio, a capacidade de mudar o curso do Destino. Do outro, o poder necessário para que as mudanças sejam importantes. Na cultura grega, normalmente os Deuses detém o poder, mas vivem predestinados. Na religião judaico-cristã, os anjos são poderosos, mas presos aos desígnios de deus.
No romance medieval, o herói é meio plebeu, meio realeza. Da realeza é que ele herda a capacidade de mudar a História. Mas é do povo que ele herda suas outras características. Porque no romance medieval, o herói representa o povo do lugar onde a lenda é contada. Mas isso é outra parte da questão.
No ponto inicial da narrativa, o herói já é capaz de mudar o mundo. Diferente do conto de formação, o herói inicia a jornada sendo todo-poderoso. É Gilgamesh no início de sua epopéia. O herói se vira muito bem sozinho e é convidado a solucionar o problema de outra pessoa, um rei, um deus amigo, um senhor muito rico que promete pagar muito bem. Ele não se importa. Só quer o pagamento.
No meio do caminho, ele encontra a princesa. E aqui é a parte importante. A princesa se importa. O papel da princesa é unir o herói, separado do mundo, com as outras pessoas do mundo. Empatia. O herói já é dono de si mesmo, mas não tem propósito. A união com a princesa é o primeiro sinal de empatia. Através da princesa, o herói descobre que há um mundo exterior. O mundo exterior entra no herói, mas o mundo exterior é desequilibrado. O herói parte para uma jornada de harmonização do mundo exterior.
Formulando melhor: a princesa faz com que o herói se importe com um mundo que antes ele nem sabia que existia.
Tomemos como exemplo Han Solo.
Han Solo não se importa. E ele não precisa se importar. Ele se vira muito bem sozinho — ou melhor, com seu amigo Chewie. E é só. Com certeza, Han Solo se mete em problemas, mas ele sai dos problemas com absurda facilidade. Suas façanhas já são mitológicas: sua nave é conhecida por fazer o percurso de Kessel em menos de 12 parsecs. Uma frase enigmática por si.
Han Solo é um cuzão.
Han Solo não se importa, não tem sentimentos aparente. Chewie não parece se importar com isso, exceto por uma ou outra vazão de raiva ou alívio cômico. A galáxia está em guerra. Han Solo se ocupa em contrabandear seja lá o que for.
Isso, até a chegada da Princesa Léia. É Léia, princesa, responsável por um povo, herdeira de um legado. Ok, o planeta dela é destruído, mas ainda assim ela se mantém fiel ao grupo rebelde. E as pessoas ainda a tratam como “princesa”.
Princesa Léia é o ponto de contato de Han Solo com o mundo. Não porque ela é capturada, mas porque ela sente empatia pela causa rebelde. Através dela, Han Solo consegue sentir empatia também. Por Léia, por Luke, finalmente pelos rebeldes.